COLEGAS REPRESENTANTES, VOCÊ CONHECE ALGUMA EMPRESA COM ESTE NÍVEL?
Ao menos 13 processos foram abertos na Justiça do Trabalho de Mato Grosso por conta da distribuição de troféus 'lanterna’ e ‘tartaruga’ à equipe de vendedores com pior desempenho em uma fábrica de bebidas de Mato Grosso. Um deles foi o, ex-vendedor, que trabalhou por cerca de cinco anos no local e diz ter recebido um dos troféus duas ou três vezes. “Cheguei a ver gente chorando ao receber”.
Os troféus eram distribuídos em reuniões semanais de avaliação, na frente das equipes de vendas, de gerentes e de alguns diretores. Geralmente o coordenador da equipe que menos vendeu recebia uma lanterna verde. O vendedor com pior desempenho naquele time, que tinha cerca de 50 pessoas, levava o troféu 'tartaruga’.
Troféus lanterna e tartaruga, que teria sido pintada com características dos empregados, como óculos
“Tudo começou na base da brincadeira, era como se fosse uma descontração”. “O problema foi quando as brincadeiras passaram para o lado de dizer que tinha sido incompetente, que não tinha me esforçado.”
O advogado , que representa 12 trabalhadores que entraram com ação por danos morais, diz ainda que os troféus eram personalizados. “Na tartaruga, por exemplo, se o pior vendedor da semana tivesse uma pinta, eles desenhavam uma pinta na tartaruga. Se ele usasse óculos, desenhavam um óculos. Se tivesse barba, desenhavam uma barba.”
Também na tartaruga era colocado um papel dobrado, simulando um par de asas. “Era uma referência para o vendedor tartaruga ser mais rápido e figuradamente ‘voar’ em sua motocicleta, para conseguir mais vendas para a empresa”, relata o advogado.
Indenização de R$ 25 mil
Às vezes, conta o ex-funcionário, a lanterna ficava com o vendedor. “Começou a ser exigido que o vendedor carregasse a lanterna durante a semana. Eu tinha que ficar com a lanterna”, lembra. Ou então o ganhador deveria manter o troféu na mesa onde fazia reuniões com a equipe.
funcionários de outros setores tinham acesso à sala e viam o troféu. “Chegou um momento em que a gozação ficou muito forte, muito pesada. Toda a empresa questionava a gente”. Sentindo-se constrangido, ele diz que chegou a questionar o método com a gerência e depois consultou um advogado para saber se tinha direito a alguma indenização.
Quis mostrar que, por mais que um funcionário não esteja tendo um bom desempenho, por mais que seja subalterno, você não pode humilhar ninguém."
Entrou com ação por danos morais e também requerendo o pagamento de horas extras, após ter sido dispensado pela empresa em ocasião que ele acredita não ter qualquer ligação com a questão dos troféus. Em primeira instância, em 2009, foi determinada indenização de R$ 10 mil por danos morais. A empresa recorreu e, em segunda instância, em 2010, o valor acabou aumentado para R$ 25 mil no TRT da 23ª Região, em vista de outros dois processos previamente julgados.
A indenização foi dividida em parcelas e já foi paga. Questionado se achou justo o valor, o ex-funcionário diz que se tivesse recebido 1 real ou 1 milhão de reais teria sido suficiente. “Quis mostrar que, por mais que um funcionário não esteja tendo um bom desempenho, por mais que seja subalterno, você não pode humilhar ninguém. Não entrei com ação por valores, e sim, para mostrar isso.
De 12 ações impetradas pelo advogado, sete já foram julgadas até segunda instância, com ganho de causa para os trabalhadores, segundo ele. O 13º processo é de outro ex-funcionário, que teria recebido cinco vezes o troféu 'lanterna’ e não quer ser entrevistado. Ele conseguiu R$ 80 mil, em primeira instância. A empresa diz que vai recorrer da decisão.
A empresa afirma que o concurso foi descontinuado imediatamente "após verificarmos indícios de uso distorcido do mesmo". A nota diz que esse uso distorcido teria sido uma iniciativa isolada de um ex-gerente que "por outras razões" não trabalha mais na empresa.