quinta-feira, 26 de abril de 2012

CARTA DE UM CHEFE IRASCÍVEL


O que acontece com você? Por que de um bom tempo para cá você se transformou numa pessoa irascível e grosseira com seus colegas de diretoria e com os demais executivos da empresa?
Por favor, não me diga que você sempre foi assim. Até pode ser verdade. Mas você não tinha o poder que tem hoje. E desde que o obteve só fez piorar. Respiramos aqui dentro um ar envenenado.
Não tenho procuração para falar em nome de ninguém, a não ser no meu, mas lhe garanto que é crescente o clima de insatisfação com o seu comportamento. E como você mete medo nas pessoas, elas não ousam dizer o que pensam.
Vou lhe dizer o que penso. Aprendi em cursos de gerência que essa é a melhor forma de contribuir para o sucesso de um negócio.
Você centraliza em excesso a administração. Quer saber de tudo, dar palpite em tudo, decidir tudo ou quase tudo. Como tal coisa é impossível mesmo para um executivo em tempo integral, o que é o seu caso,
• o processo de tomada de decisões tem a agilidade de um elefante em férias. Você não tem tempo para despachar com ninguém. Aliás, você só gostaria de despachar com meia dúzia de pessoas. Tem diretor que despachou com você uma só vez em 15 meses;
• e todos aguardam seu pronunciamento. E evitam agir com receio de que você os desautorize. O que ocorre com freqüência, você sabe. Isso produz paralisia – e você também sabe. O espantoso é que parece não ligar.
A centralização em excesso emburrece as pessoas, diminui sua criatividade e conspira contra inovações. Elas se tornam mais medrosas. Confundem medo com cautela, medo com prudência, mas o que sentem é medo.
Quem gosta de ser admoestado aos gritos na frente dos outros? Quem gosta de ver os outros sendo admoestados? Quantas secretárias já não pediram para ser transferidas? Quantas não choraram depois que você lhes deu as costas?
Sucedem-se as pequenas/grandes crises. Você se tornou um administrador de crises. Crises que você mesmo provoca com irritante assiduidade.
Quer saber?
Penso que você perdeu o ponto de equilíbrio entre ser o executivo de pulso forte, que sabe o que quer e que empurra a empresa na direção desejável, e o executivo autoritário que demonstra enorme dificuldade para enfrentar divergências e conviver em ambiente democrático.
Você reage mal quando as pessoas expressam opiniões contrárias às suas. Por mais que tente disfarçar nessas ocasiões, é visível o seu desconforto. Todos notam. Como temem o desemprego e a humilhação, simplesmente emudecem.
Em viagem recente, lembra como reagiu ao desembarcar para conhecer uma sucursal da empresa? Você gritou: “Não quero seguranças comigo. Nem mesmo fotógrafo”. Você tinha o direito de dispensar quem quisesse. Mas aos gritos?
O que você faz de bom ou de mal, de simpático ou de desagradável, acaba atingindo o cargo que exerce. Você precisava ver o assombro dos formandos que o escolheram recentemente para paraninfo.
Seu discurso não foi brilhante. Mesmo assim você se sai melhor lendo do que improvisando. Mas é de praxe que o paraninfo pose para uma fotografia com seus afilhados. Você foi embora! Inacreditável! Você simplesmente foi embora.
Autoridade nada tem a ver com autoritarismo. Afirmação nada tem a ver com maus modos. Nem sempre há que se endurecer. Mas quando lhe parecer de todo impossível não fazê-lo, lembre-se de ser terno ao mesmo tempo.
Funciona. Acredite.

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